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A Cor Isolada

A cor isolada nos remete para dois estados da própria cor: o frio ou o calor da cor e a claridade ou obscuridade da cor, entretanto mesmo quando quentes ou frias, essas cores variam entre claro e escuro, pendendo para o amarelo uma cor sugere uma cor mais quente e para o azul uma mais fria. Esta diferença de estados da cor, que oscila entre o quente e o frio, é o “Primeiro Grande Contraste”, segundo Kandinsky, em relação ao valor interior da cor, visto que o calor tende a aproximar-se do espectador, enquanto que o frio afasta.

 

 O amarelo e o azul, para além dos seus movimentos horizontais que aproximam e afastam também se distinguem pelos movimentos excêntricos e concêntricos. Um círculo preenchido de amarelo cativa de forma mais intensa o espectador do que um preenchido de azul. “O primeiro círculo incide sobre o olho e o segundo absorve-o.” Quanto mais claro é o amarelo ou quanto mais escuro é o azul mais ambos os seus efeitos se intensificam.

 

 

O “Segundo Grande Contraste” da cor está na diferença entre o branco e o preto. Ao deixar que estas cores atuem sobre os nossos sentidos vemos que “o primeiro movimento do amarelo, sua tendência para ir na direção daquele que olha, tendência que, aumentando a intensidade do amarelo, pode chegar até a incomodar; e o segundo movimento, o salto para além de todo limite, a dispersão da força em torno de si mesma, são semelhantes à propriedade de se precipitar inconscientemente sobre o objeto e se propagar em desordem para todos os lados, que toda força material possui. O amarelo atormenta o homem, espicaça-o e excita-o, impõe-se a ele como uma coerção, importuna-o com uma espécie de insolência insuportável. ”

 

O Amarelo é uma cor vibrante que comparada com os estados de alma, pode revelar um estado de loucura, de raiva ou até delírio. Opõe-se à melancolia ou à profundidade. O amarelo é a pura força que nos arrebata e nos desperta. “[...] soa como um trompete agudo, que fosse tocado cada vez mais forte, ou como uma fanfarra estridente. “

 

O azul é uma cor muito mais profunda que o amarelo “O azul profundo atrai o homem para o infinito, desperta nele o desejo de pureza e uma sede de sobrenatural. É a cor do céu, tal como se nos apresenta desde o instante em que ouvimos a palavra ‘céu’. ” O azul, quando atinge ambos os seus polos, quer claro quer escuro, também conduz o homem a estados distintos como a quietude ou então a tristeza. Enquanto que o amarelo é uma cor aguda e estridente, o azul é uma cor que se assemelha aos “sons mais graves do órgão”, dificilmente ascende na escala das cores.

 

O verde é o ponto de equilíbrio dessas cores, sendo a cor mais calma, elimina as forças excêntricas e concêntricas do amarelo e do azul formando uma cor completamente imóvel, imobilidade que “é benéfica para os homens e para as suas almas que desejam repouso. ” Ao mesmo tempo o verde pode adquirir uma postura demasiada passiva, comum. Apesar de o verde claro revelar indiferença e o escuro indicar repouso, o verde será sempre uma cor imóvel.

 

Considerado como uma não-cor pelos pintores impressionistas. O branco representa a ausência de cor, o silêncio absoluto, “cujo equivalente pode ser, na música, a pausa, esse silêncio que apenas interrompe o desenvolvimento de uma frase, sem lhe assimilar o acabamento definitivo. O branco soa como uma pausa que subitamente poderia ser compreendida. [...]. É um ‘nada’ repleto de alegria juvenil ou, melhor dizendo, um ‘nada’ antes de todo nascimento, antes de todo começo. ”

 

Já o preto representa um nada sem possibilidades, algo morto sem futuro, sem sequer a esperança de um futuro. ” Qualquer cor sobreposta ao preto ganha uma vitalidade imediata, torna-se mais forte e eficaz. O preto é comparado a um cadáver sem vida ou então a uma pausa vazia. “O que na música a ele corresponde é a pausa que marca um fim completo, que será seguida, talvez, de outra coisa – o nascimento de outro mundo. ” “Não é sem razão que o branco é o adereço da alegria e da pureza sem mácula, o preto, o do luto, da aflição profunda, o símbolo da morte. ”

 

A combinação destas duas cores, o Cinzento, representa a imobilidade sem esperança. Ao contrário do verde, o cinzento não respira, transmitindo assim o desespero. O cinzento também pode ser resultado da junção do verde e do vermelho, mas é já um cinzento que revela alguma esperança, é uma “mistura espiritual de passividade acumulada com atividade devoradora de ardor. ”

 

O vermelho é uma cor fogosa, agitada, má agitação diferente da do amarelo, sendo uma agitação poderosa, madura e centrada. O vermelho claro e quente refere-se a força, a energia, a decisão e o triunfo enquanto que o vermelho médio nos evoca estados de alma como a paixão. O vermelho quente “soa como uma fanfarra em que domina o som forte, obstinado, importuno da trombeta”, enquanto o vermelho médio “pode ser comparado à tuba, outras vezes, crê-se ouvir o rufar ensurdecedor de tambores. ” 

 

Há um apagamento do vermelho se inserirmos nele o azul, sendo chamado de tonalidades sujas por alguns artistas, argumento cujo Kandinsky discorda, pois, “todos os meios que procedem da Necessidade Interior são igualmente puros. Neste caso, o que exteriormente parece sujo é puro em si. ” 

 

O vermelho é uma cor incandescente que se for misturada ao preto transforma-se em Marrom, cor da dureza, estagnação e retardação, “na qual o vermelho não passa de um murmúrio apenas perceptível. ” Além disso, produz uma “beleza interior”, a moderação. Ao contrário do azul marinho, extremamente profundo, o vermelho, mesmo que escurecido, murmura sempre algo do seu caráter próprio.

 

O laranja, combinação do vermelho e amarelo, evoca saúde e vitalidade. Mas uma vitalidade concisa e não imperiosa “Soa como o sino do ângelus, tem a força de uma poderosa voz de contralto. Dir-se-ia uma viola entoando um largo. ”

 

O Violeta é a cor que se opõe ao laranja. Sendo uma cor também baseada no vermelho, mas dessa vez inserindo o azul, esta cor remete ao luto: “existe nele algo de doentio, de extinto, de triste. Tem vibrações surdas do corne inglês, do charamela, e corresponde ao aprofundar-se, aos sons graves do fagote.”

 

 

Concluímos, portanto que, no mundo das cores, existem quatro grandes contrastes entre: o amarelo e o azul, o branco e o preto, vermelho e o verde, laranja e o violeta. “As seis cores que, por pares, formam três grandes contrastes, apresenta-se a nós com um imenso círculo, como uma serpente que morde sua própria cauda (símbolo do infinito e da eternidade). À direita e à esquerda, as duas grandes fontes de silêncio, o silêncio da morte e do nascimento. ”

 

Dentro da harmonia das cores, as possibilidades de combinações pictóricas são infinitas. Mas a cor “empregada como convém, ela avança ou retira-se, e faz da imagem um ser flutuando no ar [...]. Essa dupla ação, na assonância ou na dissonância, confere à composição, seja pictórica, seja desenhada, imensas possibilidades.”

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