O Princípio da Necessidade Interior
Em seu livro Kandinsky estabelece que cor e forma possuem uma grande relação, a forma acaba exercendo efeitos sobre a cor. A forma é vista como algo espiritual, cada uma com sua individualidade. Cada forma “emana um perfume espiritual que lhe é próprio. ” É nesta singularidade que constatamos a relação que existe entre a forma e a cor. Um triângulo, por exemplo, preenchido de amarelo exerce uma ação completamente diferente de um triângulo preenchido de azul, apesar de a forma ser a mesma. “
“É fácil perceber que o valor de tal cor é sublinhado por tal forma e atenuado por tal outra. Cores “agudas” têm suas qualidades ressoando melhor numa forma pontiaguda (o amarelo, por exemplo, num triângulo). As cores que podemos qualificar de profundas veem-se reforçadas, sua ação intensificada, por formas redondas. (O azul, por exemplo, num círculo). É claro, por outro lado, que o fato de não combinar a forma com uma cor não deve ser considerado uma “desarmonia”. Cumpre ver aí, pelo contrário, uma nova possibilidade, portanto, uma causa de harmonia.
A forma representa a manifestação exterior do conteúdo interior, seja essa forma a representação de um objeto material ou uma forma abstrata. A forma, portanto, é uma representação do conteúdo exterior, sendo ela abstrata ou não. “É evidente, portanto, que a harmonia das formas deve basear-se no princípio de contato eficaz da alma humana. Esse princípio recebeu aqui o nome de Princípio da Necessidade Interior. ”
Através deste Princípio da Necessidade Interior, o artista se preocupa apenas com a composição global da obra.
Quando se evoca a Necessidade Interior deve-se ter em conta as suas três necessidades místicas:
“1º - Cada artista como criador, deve exprimir o que é próprio da sua pessoa. (Elemento da personalidade.) ”
2º - Cada artista como filho de sua época, deve exprimir o que é próprio dessa época. (Elemento de estilo em seu valor interior, composto da linguagem da época e da linguagem do povo, enquanto ele existir como nação.)
3º - Cada artista como servidor da Arte, deve exprimir o que, em geral é próprio da arte. (Elemento de arte puro e eterno que se encontra em todos os seres humanos, em todos os povos e em todos os tempos, que aparece na obra de todos os artistas, de todas as nações e de todas as épocas, e não obedece, enquanto elemento essencial da arte, a nenhuma lei de espaço nem de tempo.) ”
O elemento puro e eterno deve sempre predominar sobre o estilístico da época, sempre lembrando que “quanto mais uma obra atual possui esses elementos particulares ao artista e ao seu século, mais a obra encontrará com facilidade acesso à alma dos seus contemporâneos. ”
Resumindo, “o efeito da necessidade interior é, portanto, o desenvolvimento da arte, é uma exteriorização progressiva do eterno objetivo no temporal-subjetivo. É, pois, em outros termos a conquista do subjetivo através do objetivo. ”